Sergio Buarque de Holanda baseia sua obra Raízes do Brasil com uma forte hipótese, a de que os portugueses eram mais bem preparados para efetuar a conquista dos trópicos em beneficio da civilização.
Sergio faz referencias teóricas e bibliográficas dos autores Vilfredo Pareto e Max Weber. Porem SBH, nos distancia das fontes weberianas ao aproximar uma proposta entre o aventureiro e o trabalhador. Para Sérgio o aventureiro seria caracterizado por um desejo de novas sensações e de uma consideração pública, enquanto o trabalhador seria animado pelo desejo de segurança e pelo de correspondência.
O aventureiro é o homem do espaço e seus valores, como a audácia, a imprevisão, a irresponsabilidade, a instabilidade e a vagabundagem correspondem a uma concepção espacial do mundo. Tudo aquilo que nutre os valores do trabalhador, como a estabilidade, a paz, a segurança, pessoal, o esforço sem perspectiva de proveito material imediato, permanece como que incompreensível ao aventureiro, pois advém de uma concepção temporal do mundo, ou seja, o aventureiro ibérico não saberia compreender e muito menos compartilhar o comportamento social e econômico do trabalhador do norte.
O português estava preparado pela conquista do Atlântico, mas também ao tempo. Sergio Buarque encontra algumas citações que leva a crer que o povo inglês, antes da época vitoriana, era tão pouco inclinado ao trabalho quanto o português.
Em se tratando de encontrar as causas para uma aptidão que o autor colocou, primeiramente, como um dado evidente, a construção histórica desta causalidade parece, com clareza, permanecer fortemente teológica.
O argumento político, que concerne à teoria do poder e da ação, se apóia , basicamente, sobre o desenvolvimento suposto no espaço ibérico , da teologia agostiniana do mundo. Resulta nesta concepção que nenhuma ação mundana poderia ser perfeitamente santificada, Sergio explica que, na teologia agostiniana , a Cidade de Deus, o Reino de Deus, único fim honorável do crente , nada poderia partilhar com o mundo aqui de baixo.
Os ibéricos, segundo Sergio Buarque, jamais deram crença a este mundo afastado de Deus, e permaneceram como que estranhos à organização do mundo terrestre. Na península ibérica, contrariamente ao que se passava no resto da Europa, o individualismo jamais foi submetido, totalmente, à idéia de uma organização hierárquica dos homens. Cada individuo é filho de si mesmo, não tem necessidade dos demais. Ele conta somente com as suas virtudes, com o seu próprio esforço. Os ibéricos são em geral, os dignos herdeiros do estóico Sêneca, e esta é a razão pela qual eles permaneceram , até hoje, insensíveis ao trabalho como à organização social.
É esta visão do mundo que explica, em síntese, a dominação de modelo aventureiro, fundado sobre o mérito pessoal e pelo cada um por si. Os intermediários eclesiásticos não tomam parte da obtenção da Graça e na construção do Reino. Somente Deus é Deus e todo poderoso. Weber fala neste sentido, da articulação, da articulação significativa, na língua alemã, do Berufung, o apelo que vem de Deus, e do Beruf, a profissão, o trabalho, que é como que a resposta do crente a este apelo.