Trabalho feito para nota do Módulo de Movimentos Sociais do Brasil
No presente artigo a autora Marly de Almeida G. Viana, professora adjunta do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da UFSCar e Professora do Curso de História do Centro Universitário Central Paulista- ASSER- São Carlos, aborda as questões sociais, politicas e econômicas na conjuntura das insurreições de Novembro de 1935 focando a Aliança Nacional Libertadora (ANL) e do Partido Comunista do Brasil (PCB).
Sem duvida alguma o ano de 1935 foi muito importante na história da ANL. O ambiente criado após a revolução de 30 fez com que os ânimos políticos se aflorassem mais ainda. Com a organização de alguns setores da sociedade, claro que os mais influentes, a organização de debates e ações intensificadoras tinha como objetivo elevar o pais ao progresso e a democracia.
Segundo a Marly de Almeida, a mobilização era intensa. Jovens militares, intelectuais , profissionais liberais, estudantes entre outros grupos, colaboraram para este evento , e outro dado importante que a autora aborda é a questão de que, os grupos que lideravam estas discussões eram na sua grande maioria ligado a setores que tiveram acesso ao ensino superior, ou seja, era formada por uma elite, como profissionais liberais, estudantes e de forma destacada os tenentes, este ainda constituíam um grupo armado.
Já a classe operária, se movimentava por meio de sindicatos, porem estes não possuiam uma força muito expressiva, o que contribuía para uma não aceitação das demais classes. É importante notar também que não havia ainda uma representação politica organizada em partidos, pois na época os únicos partidos políticos eram: PCB – Partido Comunista do Brasil e AIB – Ação Integralista Brasileira, que tinham ai uma ideologia e uma organização de nível nacional, e em uma sociedade como da época com a tradição de exclusão e autoritarismo, a grande massa popular ficava fora destes debates e movimentos da sociedade brasileira.
O movimento tenentista toma força nesta mobilização e debates do período, uma vez que tinham o apoio da sociedade brasileira, após a Revolução de 1930 e mesmo com a divisão do movimento com a candidatura de Getúlio Vargas, pois de um lado ficou Luís Carlos Prestes que aderiu ao Socialismo com um ideal diferenciado de sociedade e igualdade, de outro ficou a grande maioria dos tenentes que apoiaram Getúlio estes queriam a regeneração da republica, mesmo com esta divisão o tenentismo tinha apoio total da sociedade brasileira.
Porem as mudanças com a revolução e chegada ao poder de Getúlio Vargas não solucionaram os problemas econômicos e da sociedade, o que trouxe insatisfação para aqueles que tinham participado da revolução de 1930, os primeiros anos do governo provisório de Getúlio trazem a tona toda esta insatisfação.
Vale ressaltar que a conjuntura internacional do momento, pois com a chegada ao poder de regimes autoritários como na Itália e Alemanha, eram apontados como soluções para crise do estado democrático capitalista, e sem duvida influenciaram a efervescência politica do pais com a fundação da Ação Integralista Brasileira fundada em 1932 e que tinha enorme simpatia pelo fascismo, e as ideias nazifascistas tiveram adeptos imediatos no Brasil , e principalmente entre os tenentes insatisfeitos com os rumos da politica nacional .
Segundo Boris Fausto, em poucos meses a ANL ganhou bastante projeção. Calculos conservadores indicam que em julho de 1935, ela contava com 70 mil a 100 mil pessoas. Na condução do movimento, seus dirigentes oscilaram entre a tentativa de consolidação de uma aliança de classes e a perspectiva de insurreição para a conquista do poder. (Fausto, 2008)
O PCB fundado em março de 1922, por um pequeno grupo de militantes do anarco sindicalismo, de inicio totalmente subordinado ás diretivas da IC – Internacional Comunista, mas após 1929 os comunistas brasileiros mantiveram atuação independente da IC, na Revolução de 1930 os Comunistas não participaram efetivamente, pois declararam que aquela era uma Revolução de Imperialistas e que nada tinham a ver com ela, pois mesmo na ocasião Luís Carlos Prestes que já havia aderido ao comunismo ter tentado se aproximar do PCB, a direção do partido não queria alianças com Prestes, e após uma necessária reorganização do PCB em meados de 1933/34 e uma reunião do secretariado da IC, Luis Carlos prestes Conseguiu ser admitido como membro do Partido pois havia se tornado neste momento um verdadeiro mito nacional a partir da atuação na coluna Prestes, e esta reunião de moscou e entrada de Prestes no PCB foram decisivos nos levantes de Novembro de 1935.
Neste período, dirigentes do partido realmente acreditavam que o pais estava prestes a uma revolução, pois era este discurso que transmitiam para Moscou na IC, isto fez com que de certa forma o PCB via um movimento que na verdade não existia, contavam com o apoio em massa da classe operária, no Nordeste com os homens de lampião com um governo enfraquecido, acreditavam ai em um Brasil comunista, mais na verdade não foi o que se viu, pois os levantes de 1935 estavam muito mais enraizados no movimentos tenentistas do que no comunismo realmente, o Partido teve fundamental e importante participação nos levantes, porem idealizou o movimento comunista no Brasil com fortes influências do comunismo na Europa principalmente na Rússia, o que foi um erro do partido o movimento comunista brasileiro tinha toda uma especificidade, tanto nas participações como na sua própria formação, além do que a sociedade brasileira estava muito aquém dos ideais comunistas e a politica nacional era totalmente enraizada no elitismo, coronelismo e paternalismo, com uma formação histórica de escravismo, estes ideais comunistas europeus não se realizaria da mesma forma no Brasil.
Cabe aqui também a observação de que ao olhar este movimento comunista do período, temos um olhar do presente no passado, e hoje explicar estas dificuldades do comunismo no Brasil na época é totalmente um olhar diferenciado, pois não estamos na efervescência do processo histórico do momento como os comunistas estavam.
A ANL foi articulada com uma frente única antifascista- anti integralista, enquanto representantes do PCB estavam em Moscou, com a efervescência das lutas democráticas e o descontentamento com os rumos da revolução de 1930, os tenentes passaram a articular uma grande frente que ia se transformar na ANL, foi lançada em 30 de março de 1935, com Luís Carlos Prestes presidente de honra do partido e tendo como porta voz o estudante comunista Carlos Lacerda como porta voz do partido, tinha como principal ideal defender a liberdade e a emancipação nacional e social do pais, com este ideal uniu partidos, diversos sindicatos, organizações femininas, culturais, estudantis, profissionais liberais e militares, tendo assim um amplo apoio social.
A Aliança Nacional Libertadora tinha em seu discurso algumas diferenças com o ideal do PCB, a principal ficava por conta do poder, enquanto os comunistas tinham um discurso de tomada do poder por um governo popular a ANL no seu inicio não tinha este ideal, trazia em seu discurso o poder de forma democrática, e tinha um caráter aliancista viam na luta anti-imperialista e democrática as mudanças necessárias ao pais, foi reconhecidamente a maior organização de massas que o pais já teve, o sucesso da organização assustou o governo que tentou identificar a ANL com o PCB, assim podia combate-los com maior eficácia, e depois que o Partido Comunista Brasileiro entrou para a organização os rumos da Aliança Nacional Libertadora mudou, mesmo com algumas diferenças em seus discursos de ideologias os comunistas e tenentes viam na luta armada o único caminho para mudanças no pais , acreditavam que a Revolução estava muito próxima, contavam com o apoio da IC para esta revolução, na época foi destacada a revolucionária Olga Benário para acompanhar Prestes, passavam a informação para Moscou que realmente a Revolução estava muito próxima.
A situação do pais tornava-se cada dia mais conturbada e a contestação ao governo de Getúlio era cada dia mais evidente com as greves, o descontentamento dos militares, organizações sindicais e tudo com grande influencia do PCB, neste contexto a imprensa teve um papel importante pois o jornal o Globo dava destaque de um plano subversivo com ordens vindas de Moscou para a implantação de um regime soviético no Brasil e este trazia injurias sobre os comunistas e a forma como agiriam com assassinatos, fuzilamentos para a tomada do poder, claro que este fato foi uma estratégia do governo para conter os comunistas e a simpatia da sociedade pela causa, a partir disto começaram as prisões de comunistas, aliancistas, lideres sindicais, e ANL foi fechada , começando a agir na clandestinidade, e partir daí Prestes e o PCB passaram a dominar a organização.
No dia 27 de novembro de 1935 estoura no Rio de Janeiro a rebelião que ficou conhecida como “Intentona Comunista”, no mesmo mês ocorre o Levante no Rio Grande do Norte, onde teve o fato importante da desorganização do próprio movimento e a maior parte da população na verdade nem sabia o porquê do levante, muitos aderiram por medo, outros por oportunismo, a maioria não tinha ideia dos ideais do movimento, isto fez com que o movimento se tornasse um movimento totalmente desorganizado e após alguns dias o movimento se enfraqueceu, já em recife também no mesmo mês com agitações operárias e militares foi comandado pelo jovem Tenente Lamartine Coutinho e depois de tomarem o quartel os revoltosos começaram a distribuir armas aos curiosos, assim como o movimento de Natal o de recife não tinha a organização necessária para um levante, pois aqui também o povo não entendia muito bem o que estava ocorrendo, apesar de serem mais politizados, o movimento em recife tem fim com os seus revoltosos presos no dia 27, na mesma data dos Levantes no Rio de Janeiro .
Basta seguir estes acontecimentos para entender que os levantes estavam longe de ser uma conspiração ordenada por Moscou como a imprensa e o próprio governo propagava, pois em Natal o movimento foi desorganizado e de questões politicas, no de recife foi também questão politica regional e demostrando o total despreparo do próprio movimento, e enquanto isso no Rio de Janeiro as noticias começaram a chegar sobre estes levantes mais eram vagas, e apesar disto Prestes decidiu pelo Levante na madrugada de 27 de Novembro no Rio de Janeiro com uma maior organização com data e hora marcada o movimento não se deu da forma como Prestes havia organizado e pensado, pois contava com um apoio de antigos companheiros o qual não teve, a resistência nos quarteis foi grande , e isto também não estava nos planos de Prestes, a marinha também não aderiu ao levante , e a população não tinha ideia do que estava acontecendo, o levante do Rio também foi derrotado.
Os revolucionários estavam certos de que poderiam ainda continuar a luta e que a vitória seria possível, o PCB achava que a derrota nas Insurreições se deu devido a prematuridade das ações porem neste momento começa a violenta repressão ao movimento , com prisões , torturas, em dezembro de 1935, com a prisão de membros de direção do partido, Prestes inicia a sua fuga juntamente com Olga Benário, e após uma busca incessante Prestes e Olga forma presos em março, levados para o DOPS e lá separados foi a ultima vez que se viram, meses depois Olga foi entregue aos nazistas gravida de Prestes foi assassinada em um campo de concentração .
O PCB e a ANL foram sem sombra de duvidas importantes no cenário da politica brasileira da década de 30, as insurreições mesmo desorganizadas e fracassadas fazem parte de um processo histórico importantíssimo para entendermos o comunismo no Brasil e principalmente a questão do tenentismo, pois o próprio Prestes fez a seguinte afirmação: “Houve muito de subjetivismo... pensávamos que éramos donos da situação, e em 1935 eu era um tenente muito longe ainda de ser um comunista, um marxista, esta que é a realidade”.
Nesta afirmação de Prestes, fica muito claro que o movimento comunista do Brasil foi um movimento acima de tudo de tenentes que tinham o apoio popular, não se viu uma união nacional em torno do socialismo, e este na Europa se dava de um processo histórico totalmente diferente do processo brasileiro, nossa sociedade não estava madura para o socialismo e o comunismo, tínhamos naquele período um histórico de oligarquias e elites que impediam a sociedade de uma mentalidade e uma cultura socialista, e outro aspecto importante a acrescentar é o fato de que o apoio da sociedade não significava abraçar a causa socialista, e a grande massa no Brasil estava aquém de ser politizada, e entender o que realmente estava acontecendo, as insurreições de 1935 foram muito mais tenentista do que socialista, tinha um caráter justo para a época, mas as estratégias e a forma de lutar não foi o caminho certo a seguir, foi também muito mais idealizadas do que concretizadas, porem sempre devemos ter um olhar cauteloso para o passado, pois para quem estava no calor do momento e das ideologias a visão politica era sem duvida de uma vitória, o processo histórico mundial do momento também sem duvida alimentava esta utopia do comunismo brasileiro.
Com isso podemos concluir que Marly Vianna, traz a tona abordagens precisas das insurreições e toda a especificidades destes movimentos no Brasil, é sem duvida um artigo que elucida alguns pontos do comunismo no pais. Também podemos constatar que mesmo tendo sido um movimento muito mais de cunho tenentista do que socialista, foi um movimento que lutava por transformações importantes na sociedade brasileira, foi de máxima importância para a história do Brasil, e até mesmo para os processos que se desenrolaram nos anos seguintes com a total perseguição aos comunistas.
Bibliografia
Fausto, B. (2008). História do Brasil. Sao Paulo: Edusp.
Toledo, C. N. (2004). O Governo Goulart e o Golpe de 64. São Paulo: Editora Brasiliense.
Vianna, M. d. (2007). O PCB, a ANL e as insurreições de Novembro de 1935. In: J. Ferreira, & L. d. Delgado, Brasil Republicano - O tempo do nacional estatismo: do inicio da década de 30 ao apogeu do Estado Novo (p. 65 a 103). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
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