segunda-feira, 9 de maio de 2011

Resenha sobre a Dissertação de Mestrado da autora Telma Bessa Sales “Experiências de João Ferrador em os Tempos de Reestruturação Produtiva: VW SBC

Analisando a Dissertação de Mestrado da autora Telma Bessa Sales, com o tema “Experiências de João Ferrador em os Tempos de Reestruturação Produtiva: VW Anchieta – SBC”, a pesquisa de Telma problematiza as mudanças no mundo de trabalho, em específico a reestruturação da fabrica da Volkswagen do Brasil em São Bernardo do Campo, entre os períodos dos anos 80 e 90.

A autora em seu trabalho opta por trabalhar com a metodologia de História Oral, utilizando-se de depoimentos feitos com trabalhadores da fábrica, ela também usa fontes como jornais sindicais e documentos da própria Volkswagen.

Telma deixa claro logo nas considerações iniciais que, seu intuito, não é abordar o ponto de vista empresarial tampouco sindical, mas sim, priorizará os trabalhadores, enfatizando no dialogo com suas narrativas, com as formas como se expressam e significaram as mudanças vivenciadas neste período para os trabalhadores.

Em seu trabalho, Telma discorre sobre o porquê escolheu este tema, e logo percebemos um lado pessoal, pois a mesma faz parte de sua militância e a defesa dos direitos dos trabalhadores, seja no bairro ou no local de trabalho, ela também explica que a pesquisa visa colocar em discussão os impactos das mudanças para o trabalhador, suas relações no local de trabalho, ou seja, na maneira de ver o mundo e de se relacionar com as pessoas.

No primeiro capitulo vemos uma análise da trajetória dos trabalhadores metalúrgicos entrevistados a exploração de suas vivências, implantação e transformação da fabrica da Volkswagen – Anchieta e é claro a expansão da cidade de São Bernardo do Campo.

A indústria automobilística tem uma importância acentuada na economia brasileira e destaca-se pela capacidade de geração de empregos, Bessa explica que em 1985, a empresa VW produziu 36,72% da produção total de veículos, a GM 23,77%, a Ford 17,89% e a Fiat 15,86% da produção. Isso fez com que a cidade de São Bernardo atraísse vários trabalhadores, que lá chegavam tentando reconstruir suas vidas.

Em busca de um novo rumo, homens e mulheres chegavam à cidade em busca de uma vida melhor, com emprego e moradia. Vale ressaltar que grande parte dos atuais moradores de São Bernardo são migrantes, cerca de 73% desses são da categoria de trabalhadores metalúrgicos.

Com o crescimento industrial durante os anos de 1950 e 1960, as empresas usavam um discurso sedutor para agradar seus trabalhadores.

Companheiro, seja bem vindo! Você a partir de hoje faz parte da familia VW. Aqui encontramos e fazemos amigos, tomamos nossas refeições, discutimos as coisas simples e importantesde nossas vidas, trabalhamos lado a lado, em uma harmoniosa equipe...Por é necessario que compreenda a importancia de todos dentro da organização, suas obrigações, responsabilidades e direitos... E neste caminho, desejamos que obtenha sucesso e felicidade em suas novas atividades.[1]

Durante sua pesquisa, Telma pergunta para um trabalhador qual o significado de trabalhar na VW e obtém a seguinte resposta:

“Se você se valorizar a VW te valoriza, eu senti que eu consegui construir na vida uma coisa muito importante sendo trabalhador da VW, eu consegui ajudar dois filhos a se formar, fazer faculdade, eu acho que o estudo é a riqueza que só Deus pode tira, consegui viver uma vida normal, tenho um teto para morar, plano de saúde, meu carrinho para passear, é isso ai”

Como podemos perceber a primeira parte do seu trabalho de mestrado Telma vai expondo algumas informações obtidas através de funcionários, sindicatos e outras fontes de pesquisas. Já na segunda parte a autora analisa o processo da inserção de maquinas na rotina dos trabalhadores. Durante este processo ela explica que a VW introduz o CCQs – Círculos de Controle de Qualidade, que eram grupos de funcionários de qualquer nível, que se reuniam durante uma hora, a cada semana para discutir melhorias na qualidade dos produtos e nos métodos de trabalhos.

Durante esta fase de inovação a VW implanta o sistema de células de produção, que nada mais era uma forma inteligente, segundo a empresa, de organizar a produção em equipes, pratica esta executada no mundo todo com muito sucesso. O sistema de célula proporcionava a cada participante da equipe maior versatilidade e maior criatividade além de mais participação e integração com funcionários e lideranças.

A implantação de novas tecnologias na fabrica é percebida de maneiras diferenciadas e, muitas veze, identificadas como uma alteração localizada, somente no setor. Todos os trabalhadores entrevistados compreendem a que as mudanças possuem um objetivo maior que é tornar a VW mais competitiva no mercado automobilístico.

Na terceira parte vemos o surgimento do chamado CNC – Comando Numérico Computadorizado, os funcionários da VW vão criticar este sistema alegando que antigamente eles podiam sugerir mudanças nos protótipos das peças fabricadas, já com a implantação do CNC não tinham mais esta autonomia.

Segundo um trabalhador entrevistado, o mesmo diz que:

“hoje o computador faz tudo, desenho, a tecnologia tem muito lá na fabrica (...) lá nos tinha a copiadora normal sem ser o CNC, não era programadora. O trabalhador tinha que olhar bem, se não, não saia a peça do jeito que era pra ser”

O CNC vai passar a fazer um controle sobre os trabalhadores qualificados, como por exemplo, os ferramenteiros, que até então exerciam sua função e capacidade profissional numa variedade de trabalho, em que sua tarefa não permitia a padronização do mesmo.

Já nas considerações finais a autora vai dizer que, o estudo sobre os trabalhadores metalúrgicos do ABC está presente nas universidades sob os mais diversos aspectos e ressalta novamente que durante sua pesquisa não abordou o lado empresarial, mas sim apenas os dos trabalhadores, enfatizando um diálogo com suas narrativas e as formas como se expressaram as mudanças vivenciadas.

Telma cita também que durante este processo tecnológico, milhares de trabalhadores foram demitidos e diz que de janeiro de 1980, onde haviam cerca de 37.210 trabalhadores, até janeiro de 1990 o quadro de funcionários foi reduzido para 27.952, ou seja, cerca de 10 mil trabalhadores estavam fora da fabrica após este processo de implantação tecnológica.

Bessa fecha seu trabalho explicando que as mudanças ocorridas na VW foram percebidas de maneiras diferenciadas, de acordo com a experiência de cada um. Uma forma fragmentada, setorizada, com algumas opiniões que as mudanças fazem parte de um plano maior da concorrência internacional. No cotidiano, a visão das mudanças é localizada.

Bibliografia

Almeida, L. F. (2006). Uma Ilusão de Desenvolvimento - Nacionalismo e Dominação Burguesa nos Anos JK. Florianopolis: UFSC.

Documento VW. (1969). Arquivo do Sindicato dos Metalurgicos do ABC . Dieese.

Sales, T. B. (2000). Experiências de João Ferrador Em Tempos de Reestruturação Produtiva:VW Anchieta - SBC. São Paulo: Pontificia Universidade católica de São Paulo.



[1] Documento VW – 1969 – Arquivo dos Sindicatos dos Metalúrgicos do ABC – Dieese.